O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou nesta terça-feira (23) na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, destacando os desafios do multilateralismo, a defesa da democracia no Brasil, o combate à fome no mundo e a urgência de reformas na ONU e em organismos internacionais.
Multilateralismo em xeque
Lula afirmou que os ideais que deram origem à ONU estão ameaçados como nunca antes. Para ele, o multilateralismo enfrenta uma crise sem precedentes, marcada por intervenções unilaterais, sanções arbitrárias e ataques à soberania dos Estados.
“O autoritarismo se fortalece quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito”, declarou.
Defesa da democracia no Brasil
O presidente também mencionou a condenação recente de um ex-chefe de Estado brasileiro por atentar contra a democracia, classificando o julgamento como histórico e exemplar.
“Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Não há pacificação com impunidade”, afirmou Lula, ressaltando que o Brasil deu um recado claro a candidatos a autocratas.
Fome e desigualdade
Lula celebrou a saída do Brasil do mapa da fome em 2025, segundo a FAO, mas alertou que mais de 670 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. Ele reforçou que a única guerra que pode gerar vencedores é o combate à fome e à pobreza.
O presidente propôs ampliar a cooperação internacional, reduzir gastos militares, aliviar dívidas de países pobres — sobretudo africanos — e taxar os super-ricos de forma mais justa.
Regulação digital e combate à desinformação
Em seu discurso, Lula destacou a importância de regulamentar o ambiente digital para proteger crianças, adolescentes e a democracia contra crimes, intolerância e desinformação. Ele citou a recente lei brasileira voltada à proteção de menores no espaço virtual.
“Irregular não é restringir a liberdade de expressão, mas garantir que o que já é ilegal no mundo real também seja tratado como ilegal no ambiente digital”, reforçou.
Conflitos internacionais e Palestina
O presidente condenou a escalada de conflitos no Oriente Médio, especialmente em Gaza. Embora tenha criticado os atentados do Hamas, classificou as ações de Israel como genocídio.
“Nada, absolutamente nada, justifica o massacre em curso em Gaza”, disse, apontando a cumplicidade internacional no prolongamento da crise.
Lula também reafirmou apoio à criação do Estado palestino e à busca por soluções negociadas em conflitos como o da Ucrânia e o do Haiti.
Mudanças climáticas e Amazônia
Lula destacou que 2024 foi o ano mais quente já registrado e defendeu ações concretas contra as mudanças climáticas. Ele anunciou que, na COP-30, que será realizada em Belém, o Brasil apresentará o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, destinado a remunerar países que mantêm suas florestas em pé.
Segundo ele, o país já reduziu pela metade o desmatamento da Amazônia nos últimos dois anos.
Reforma da ONU e papel do Sul Global
O presidente defendeu uma reforma abrangente da ONU, incluindo a criação de um conselho específico para acompanhar as questões climáticas e a ampliação do Conselho de Segurança. Também cobrou maior protagonismo para o Sul Global, citando blocos como BRICS, G20 e Celac.
“O século 21 será multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral”, afirmou.


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