No coração do sertão pernambucano, onde o sol castiga e a vida pulsa em um ritmo próprio, a política local nos oferece um retrato, no mínimo, curioso. A Câmara de Vereadores de uma certa cidade, cujo nome preservaremos por ora, parece ter descoberto uma nova dinâmica de funcionamento: a dependência umbilical da figura do presidente.

A cena que nos chega é quase folclórica. Com o quórum mínimo de sete vereadores arduamente conquistado, a sessão ordinária, aguardada com a ansiedade de quem espera a chuva em pleno agosto, é simplesmente adiada. O motivo? Uma viagem. Não de um vereador qualquer, mas do próprio presidente da Casa.

A questão que ecoa pelos becos e nas rodas de conversa é inevitável: para que, afinal, serve um vice-presidente? A liturgia do cargo, em teoria, prevê a substituição em casos de ausência, impedimento ou vacância. Mas, aparentemente, nessa engrenagem política sertaneja, a peça de reposição não encaixa, ou talvez, nem sequer exista funcionalmente.

E a imagem que se forma é preocupante. A Câmara Municipal, que deveria ser um espaço de debate plural, de fiscalização do executivo e de representação dos anseios da população, surge como um apêndice da prefeitura. A metáfora do “puxadinho” é forte e, convenhamos, bastante sugestiva. Se o executivo espirra, lá está um certo vereador, pronto com o lenço, ou melhor, com a aprovação tácita de qualquer projeto que venha do executivo.

A ausência do presidente, por mais legítima que seja a sua viagem, escancara uma fragilidade institucional que não pode ser ignorada. Uma Casa Legislativa que paralisa suas atividades pela falta de um único membro demonstra uma alarmante falta de autonomia e, consequentemente, uma menor capacidade de exercer o seu papel fundamental na democracia local.

É preciso que os eleitores dessa terra seca, mas fértil em esperanças, reflitam sobre o papel de seus representantes. A Câmara de Vereadores não pode ser refém de individualidades, por mais importantes que elas pareçam ser. A representatividade exige um colegiado atuante, presente e, acima de tudo, comprometido com os interesses da comunidade, com ou sem a presença física do presidente. Afinal, a democracia não tira férias.