O pior sentimento na política é a ingratidão – um vício que muitos cultivam até o momento em que precisam de um emprego ou desejam manter-se no cargo.
A trajetória desse político exemplifica um fenômeno recorrente: a ascensão por meio de capital simbólico alheio, seguida pelo abandono dos valores que o legitimaram. Não se trata apenas de um desvio ético individual, mas de uma dinâmica estrutural em que laços de lealdade são instrumentalizados até se tornarem descartáveis.
A ingratidão, nesse contexto, não é mera falha de caráter – é tática de sobrevivência em um sistema onde o pragmatismo supera os princípios. O que choca não é a existência desse comportamento, mas a naturalização com que é aceito. Enquanto o eleitorado premiar os que traem suas origens em prol de interesses pessoais, o ciclo vicioso se perpetuará.
A política que recompensa os oportunistas é a mesma que esvazia sua própria legitimidade. Cabe à sociedade romper esse esquema, cobrando coerência e punindo com o voto os que transformam gratidão em moeda de troca.
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