A ex-senadora Marina ainda não conseguiu atrair políticos de peso; Alfredo Sirkis é seu principal articulador no Rio O GLOBO / André Coelho |
O processo de criação do 31º
partido político brasileiro, encabeçado por Marina Silva, a
ex-senadora pelo Acre e dona de 20 milhões de votos na última
eleição presidencial, terá seu grande dia neste sábado, em
Brasília, quando será definido o seu nome e serão lançados o
programa e o estatuto provisórios, com ideias peculiares e uma série
de restrições ao comportamento vigente da política atual. Marina
está contando com apoio e solidariedade de políticos de vários
partidos, PT e PSDB principalmente, mas poderá ter dificuldades em
assinar a ficha de filiação de muitos deles. Até o momento, apenas
três parlamentares confirmaram o desejo de migrar para a legenda:
Alfredo Sirkis (PV-RJ), Walter Feldman (PSDB-SP) e Domingos Dutra
(PT-MA).
Outros nomes cotados como possíveis
correligionários de Marina no partido, que por enquanto se chama
“Rede”, já avisaram, por meio de assessoria, que ficam onde
estão, entre eles os deputados Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon
(PT-RJ).
O processo de criação precisa ser concluído até
o início de outubro, para que os filiados possam disputar as
eleições do ano que vem. Não será difícil conseguir 500 mil
assinaturas em nove estados, como exige o Tribunal Superior
Eleitoral. O desafio é conseguir apoios políticos efetivos que
viabilizem a vida do partido.
Reservadamente, políticos assediados alegam que a
legenda está se constituindo como “o partido da Marina”, pois a
maior preocupação, dizem, é garantir a candidatura dela a
presidente em 2014. Marina não estaria disposta a trabalhar por
candidaturas a governos estaduais e ao Senado, por exemplo.
Tempo de Mandato: limite de 16 anos
Além desse temor, regras previstas no estatuto
provisório — que deverá sofrer alterações ao longo deste ano —
servem como repelente para políticos. É o caso da limitação a 16
anos do tempo de mandato parlamentar de um filiado. Serão proibidas
filiações de políticos “ficha-suja”e haverá teto para doações
de pessoas físicas e jurídicas. O estatuto provisório, que deverá
ser aprovado no sábado, proíbe a contribuição de setores cuja
lógica produtiva “não seja ligada à sustentabilidade”, assim
como de empresas das áreas de cigarros, armamentos, agrotóxicos e
bebidas alcoólicas. A proposta é de que a nova sigla não tenha um
presidente nacional, mas uma comissão executiva cujos membros tenham
poderes iguais. O coordenador jurídico da rede Pró-partido, André
Lima, diz que a ideia é impedir a formação de “caciques”:
— Queremos trabalhar como uma rede, sem caciques
políticos. O limite de 16 anos de mandato abre espaço para novas
lideranças — disse Lima, ressaltando que o grupo ainda não está
discutindo alianças ou questões eleitorais.
Outro ponto que preocupa simpatizantes do partido
é a intenção de reservar 30% das vagas no Congresso a candidaturas
avulsas, para os que não tenham comprometimento partidário — a
filiação partidária é obrigatória para o candidato. A ideia de
fazer plebiscito após 20 anos para avaliar se o partido deve
continuar a existir também provoca calafrios em políticos.
Um parlamentar simpatizante da ex-senadora diz que
os colegas cotados para ir para a nova legenda estão inseguros sobre
como será o partido:
— As ideias são, no mínimo, inusitadas. É bem
intencionado, mas está sendo conduzido por pessoas de outras áreas,
sem experiência partidária. É tão utópico, distante, que fica
difícil saber se é possível. Marina atrai, mas o fato de ela ter
20 milhões de votos não quer dizer que tenha tarimba para ser líder
de partido.
Outro político que conversa com o grupo de Marina
acredita que ela não conseguirá estruturar uma legenda:
— A Marina não está montando um partido para
ganhar eleição, ela quer somente repetir os 20 milhões que fez em
2010 e ser uma popstar. Somente os idealistas vão para um partido
desse.
Os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Pedro
Taques (PDT-MT), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Simon (PMDB-RS)
e a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) serão procurados após
a criação do partido. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) já
declarou que ajudará na fundação, mas que, por ora, não
pretende sair do PT.
— Eu, Sirkis e Domingos Dutra vamos participar
da fundação e assinar como fundadores. Os outros deverão analisar
por mais tempo, e não devem, neste primeiro momento, participar. O
processo de formação do partido vai demorar cerca de seis meses.
Com a criação da legenda, haverá mais tranquilidade (para adesões)
— avaliou Walter Feldman.
Ao contrário dos partidos que sangraram em 2010 e
2011 com a ida de filiados para o PSD, dirigentes de outras legendas
não mostram preocupação. Como o deputado Sarney Filho (PV-MA), que
foi companheiro de partido da ex-senadora:
— No Congresso, acredito que só o deputado
Sirkis vai para o partido. É irrelevante em termos de Legislativo.
Quanto mais partido para favorecer a causa do desenvolvimento
sustentável, melhor. Já estamos em extrema desvantagem em relação
aos ruralistas.
Nem mesmo no Planalto a criação do partido de
uma potencial concorrente da presidente Dilma Rousseff é levada
muito a sério. A avaliação é que a legenda deve enfrentar
dificuldades para se viabilizar, diferentemente do PSD de Gilberto
Kassab, que nasceu com respaldo de parlamentares e políticos nos
estados.
Uma das estratégias do novo partido, já com
vistas a 2014, será um pacto de “não agressão” com o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
— A ideia é ter bom relacionamento, pacto de
não agressão. Achamos difícil aliança. Campos é um dos políticos
mais permeáveis ao que a gente defende — disse Sirkis.
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