O
ministério de Fernando Bezerra Coelho
aboliu as
cisternas de placa e investe
apenas nas
de polietileno
|
A iniciativa de adotar as cisternas de polietileno no Brasil, com o
argumento de possuir melhor qualidade do que as de placa e ainda
garantir que o Governo Federal cumpra a meta de 750 mil equipamentos até
2014, foi do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho,
quando sua pasta foi incluída no programa Água para Todos, no segundo
semestre de 2011. Antes desse período, o Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS) era o único órgão estatal que financiava
programas de organizações não-governamentais para a implantação de
cisternas (todas de placa) do semiárido brasileiro.
O ministro FBC escolheu então a Companhia de Desenvolvimento do Vale do
São Francisco (Codevasf), vinculada ao seu ministério e na época
presidida pelo seu irmão, Clementino Coelho, para coordenar as
licitações e os serviços de implantação das cisternas. A empresa
mexicana Dalka foi a única concorrente e vencedora da primeira licitação
para compra de 60 mil cisternas, assinada por Clementino em setembro de
2011. Elas foram vendidas por R$ 210 milhões.
A CODEVASF
de Petrolina coordena a instalação dos
reservatórios
de plástico em Pernambuco
|
Os contratos para a instalação das cisternas foram repassados para as
superintendências regionais da Codevasf. Em Pernambuco, a unidade de
Petrolina - base eleitoral e cidade natal do ministro - foi a
responsável em coordenar o programa. Das quatro fábricas construídas no
Brasil pela mexicana Dalka para fornecer as cisternas, a de Petrolina é a
encarregada de produzir a maior quantidade (22.679) do lote de 60 mil
equipamentos.
Já a empresa vencedora para instalar as cisternas em Pernambuco foi a
Engecol, de propriedade do empresário Carlos Augusto de Alencar - irmão
da vereadora reeleita e ex-presidente da Câmara Municipal de Petrolina
na gestão passada, Maria Elena de Alencar, do mesmo partido de FBC, o
PSB. Em agosto de 2012, o jornal Folha de S. Paulo publicou matéria
informando que o empresário Carlos Augusto de Alencar fez doações, no
valor de R$ 84 mil, para as campanhas de Maria Elena e para o filho de
FBC, Fernando Filho, nas eleições de 2004 a 2010. Em 2012, quando as
eleições ocorreram após a publicação da matéria, nenhuma doação foi
registrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O empresário da Engecol em Petrolina
foi procurado para conversar sobre os atrasos na instalação das cisternas e sua
relação com o ministro. Sem se deixar fotografar, Carlos Augusto de
Alencar culpou o atraso do serviço, principalmente, pela demora na
entrega das listas dos beneficiados - elaborada pelos comitês formados
pelos sindicatos e associações - e também pelas próprias famílias que
não estão em casa para receber a cisterna ou não fazem o buraco para sua
instalação. "Em alguns casos, a equipe precisa fazer mais de três
viagens para entregar a cisterna em um único endereço e orientar o
morador para fazer o buraco", explicou. Sobre a licitação, o empresário
negou interferência política e disse que o processo foi realizado
através de pregão eletrônico, sendo impossível, inclusive, ter acesso a
informações de outros concorrentes. Segundo ele, cinco empresas
participaram do pregão.
Sem usar equipamentos de segurança, funcionários da Engecol transportam cisternas em Sertânia |
Em nome do Ministério da Integração, o diretor do programa Água para
Todos, Sérgio Duarte, defendeu a lisura das licitações, que tiveram o
aval da Controladoria-Geral da União (CGU). "Defendemos as cisternas de
placa porque são de melhor qualidade. Todo o processo ocorreu de forma
transparente, assim como a nova licitação que iniciamos para a aquisição
de mais 300 mil cisternas", disse.
META - De acordo com Cadastro Único do Governo Federal,
o mesmo usado para o Bolsa Família, 738,8 mil famílias em oito estados
do Nordeste e em Minas Gerais precisam de uma cisterna para obtenção da
água necessária ao consumo. Conforme a radiografia do cadastro,
Pernambuco é o terceiro Estado com a maior demanda: 128,6 mil famílias
ainda não contam com o equipamento. A maior necessidade está na Bahia
(224,9 mil famílias), seguido do Ceará (185,9 mil). A meta da presidente
Dilma Rousseff é que todas as famílias sejam beneficiadas até 2014.
Hoje o País possui cerca de 500 mil cisternas construídas, sendo a
maioria (mais de 90%) de placa.
0 Comentários